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Retomada da venda das refinarias da Petrobras esbarra em calendário eleitoral

A Petrobras decidiu retomar o processo de venda de três refinarias que fazem parte de um acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para quebrar o monopólio da estatal na área de refino. Esta é a segunda tentativa da empresa em vender essas unidades. Especialistas apontam que dificilmente a nova oferta terá sucesso às vésperas das eleições presidenciais, que colocam um risco a mais em um negócio que já enfrenta o obstáculo da defasagem de preços dos combustíveis no mercado interno em relação às cotações internacionais. "Impossível aparecer alguém interessado (nas refinarias) a quatro meses da eleição. Paira no ar sempre o fantasma do controle de preços, e o candidato líder das pesquisas (para a presidência, Luiz Inácio Lula da Silva) não só é contra a venda, mas já falou que vai abrasileirar os preços, ou seja, acabar com o PPI (paridade com os preços de importação) da Petrobras", avalia o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie) Adriano Pires. "Qual o doido que entraria em um negócio desses" A Petrobras anunciou que reiniciou os processos de venda da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, e Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), no Rio Grande do Sul, além dos ativos logísticos integrados a essas refinarias. Entre as três, apenas a Repar chegou a ter disputada, mas o preço baixo oferecido impediu a venda. Em processo de venda estão pequenas refinarias - Reman (AM), Six (PR) e Lubnor (CE), mas que também ainda dependem de negociações finais. Já a Regap, em Minas Gerais, tem uma oferta vinculante em andamento. Pires, que chegou a ser cotado para a presidência da estatal, lembra que até o momento, a única refinaria "de verdade" vendida pela companhia foi a da Bahia, hoje Refinaria de Mataripe, ex-Landulpho Alves (Rlam), que detém 14% do refino o País. Se por um lado o momento é favorável para a Petrobras retomar a venda de parte do seu parque de refino, devido aos altos preços dos derivados no mercado global, por outro, o Brasil se encontra em ano eleitoral e há um debate acalorado sobre o segmento, o que pode afastar investidores, diz em relatório o banco Credit Suisse. Já o analista Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, considerou a retomada da venda de refinarias da Petrobras como um sinal dado ao mercado de que a política de desinvestimentos no setor continua, mas destacou que o tempo é apertado e uma conversa mais séria com investidores só deve ocorrer após as eleições. "Revap e Regap tiveram licitação que não deu certo há pouco tempo, não vejo mudança de cenário para a gente no curto prazo ter resultado diferente nessas licitações. É mais um sinal de que o processo continua. Vejo as mesmas dificuldades no curto prazo", explica Arbetman. Além disso, avaliou Arbetman, a questão eleitoral terá um grande peso na decisão dos investidores, já que são ativos de grande porte e os interessados terão uma visão de longo prazo ao decidir pela compra. Nesta conta, explica, vai entrar o risco da defasagem de preços dos combustíveis da Petrobras nas refinarias, que apesar do aumento realizado no último dia 18, continuam descolados do mercado internacional. Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a defasagem da gasolina no fechamento do mercado ontem, 27, era de 11% e a dos diesel, de 8% em relação ao mercado internacional. Para a diretora de Refino do Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás (IBP), Valéria Lima, a retomada é positiva, mas reconhece que o anúncio acontece em um momento de muitos desafios. "Tendo a não pensar no curto prazo. Mas só com a competição vamos ter investimentos e conhecer melhor a política de preço do País. É positivo porque sinaliza que a Petrobras não desistiu, mas não é possível saber se vai dar certo", afirma. O professor de Economia da PUC-Rio especializado em óleo e gás, Edmar Almeida, se diz "cético" à possibilidade de privatizar qualquer dessas três refinarias ainda esse ano. "O anúncio foi surpreendente e só faz sentido se houver algo já negociado, o que me parece improvável", afirma. Ele lembra que os processos para venda de refinarias de grande porte são "bem longos" e contam com etapas numerosas, em que participam agentes como o Cade e a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). "Tudo teria de acontecer antes da eleição, até outubro. Porque, dependendo de quem vencer, muda a política (de desinvestimentos da Petrobras)", destaca. Interesse Almeida, que é favorável à venda de refinarias, também lista como obstáculo as incerteza com relação aos preços praticados pela Petrobras, ponderando que esse fator, embora perturbe o programa de desinvestimentos, não deve prosperar devido aos riscos de desabastecimento e ameaças a negócios privados. "O que pega mesmo é o prazo, o calendário político", disse. Por outro lado, ele diz que os ativos e as condições de mercado são excelentes, o que certamente desperta interesse na iniciativa privada. Pelas manifestações de interesse anteriores, Almeida diz que os compradores mais prováveis são empresas de distribuição que já atuam no país, eventualmente associadas a investidores estrangeiros. Produtores locais de petróleo, sobretudo de capital fechado, também poderiam fazer propostas, mas isso é menos provável porque muitos ainda iniciam seus negócios centrais. Na mesma linha, o ex-diretor da ANP, Aurelio Amaral definiu como "arriscada e desafiadora" qualquer tentativa de concluir a venda de refinarias desse porte até o fim do ano. "Teria de ser um processo muito ágil, com disputa entre agentes muito bem delineada para se ter sucesso", diz. Ele afirma que, além do processo de venda em si, há um trâmite de regulação complexo envolvendo remédios concorrenciais que podem tomar tempo. "Não vejo como fazer em menos de um ano. Até porque houve casos que duraram quase dois anos e nem assim aconteceram". Questionado sobre o interesse do mercado nos ativos, ele disse que sobre isso não há dúvidas. "Pela conjuntura, de demanda garantida, tem gente dizendo que diesel vale mais do que ouro, ainda mais no Brasil, onde o mercado é grande e carente. Então, apesar da crise, vai ter comprador", conclui.

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Petróleo fecha em forte queda, pressionado por temores de recessão

Os contratos futuros do petróleo fecharam em forte queda nesta sexta-feira (17), ampliando as fortes perdas da semana e interrompendo uma sequência de sete semanas consecutivas de perdas semanais, em meio aos temores sobre a desaceleração econômica global. O contrato do petróleo Brent, a referência global da commodity, para agosto fechou em queda de 5,58%, a US$ 113,12 por barril, enquanto o contrato do petróleo WTI americano para julho caiu 6,82%, a US$ 109,56 por barril. Na semana, o Brent acumulou perdas de 7,28%, enquanto o WTI recuou 9,20% no período. Os preços do petróleo têm sofrido pressão dos temores em torno da desaceleração econômica nos EUA e dos receios de uma recessão na maior economia do mundo, reduzindo a demanda por energia. Nesta semana, a decisão do Federal Reserve (Fed, o BC americano) de elevar a meta da sua taxa de juros de referência em 0,75 ponto percentual emdash; mais do que ele havia sinalizado em maio emdash; agravou os temores de que o aperto monetário nos EUA prejudicará ainda mais a economia americana, que já está em desaceleração. A agenda de dados de hoje trouxe mais um sinal negativo: a produção manufatureira americana caiu 0,1% em maio, contrariando as expectativas dos mercados financeiros, de alta de alta de 0,3%. A produção industrial, como um todo, conseguiu se manter em terreno positivo, com alta 0,2% no período, mas também ficou aquém das expectativas dos investidores. Do lado da oferta, o relatório de maio indicou que a produção do setor de petróleo e gás subiu 6,2%, alimentando também as perspectivas de oferta de energia e pressionando os preços do petróleo. Os investidores seguem atentos também à visita do presidente americano, Joe Biden, à Arábia Saudita, em meio às especulações de que a viagem indique um possível acordo para ampliar a oferta da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que é liderada extraoficialmente pelos sauditas.

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Decisão de Mendonça sobre ICMS piora conflito com governadores

A decisão monocrática do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), de sexta-feira, que obriga os Estados a definir uma alíquota única para o ICMS dos combustíveis, é uma vitória da gestão Jair Bolsonaro sobre os governadores, mas está longe de colocar um ponto final na disputa entre os dois lados. A ofensiva judicial começou depois que os Estados decidiram "driblar" a aprovação do projeto de lei complementar (PLP) 11, que estabeleceu a monofasia tributária para os combustíveis endash; quando o tributo é cobrado apenas uma vez ao longo da cadeia endash; e uma correspondente unificação da alíquota. Além disso, os governadores poderiam optar por uma alíquota "ad rem", quando a cobrança do ICMS é feita a partir de um valor fixo por litro. Até então, o sistema tributário só permitia a cobrança do imposto por meio do modelo "ad valorem", que utiliza um percentual sobre o valor do preço. A lei complementar diz também que, enquanto não for adotada a monofasia do diesel, o valor de referência para estipulação do tributo será a média móvel dos preços praticados junto ao consumidor final nos cinco anos anteriores à fixação. Em vez disso, os Estados decidiram adotar uma alíquota fixa superior ao que era aplicado na maioria das unidades da federação antes da edição da lei e subsidiar a diferença para os consumidores. Por meio desta solução "criativa", os governadores alegaram que a arrecadação não seria impactada e que os contribuintes não pagariam mais ICMS. Na prática, não houve, entretanto, o estabelecimento de uma mesma cobrança em todo o país, como determinava o projeto aprovado no Congresso. A manobra dos governadores foi o estopim para que o Palácio do Planalto provocasse o STF a se posicionar sobre o assunto. Agora, com a decisão de André Mendonça, os Estados ficam em uma situação ainda pior àquela imposta pelo projeto de lei. O ministro emdash; que foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para o STF emdash; definiu que, enquanto os governadores não cumprirem a alíquota única para o ICMS, o imposto de todos os combustíveis, e não apenas do diesel, deverá levar em conta a média praticado nos últimos 60 meses. Assim, o problema dos Estados não se resume apenas a um único combustível, mas também à gasolina, ao etanol, ao biodiesel, entre outros. Para os secretários estaduais de Fazenda, o revés não soluciona o problema dos preços nos postos de gasolina e ainda cria um problema de arrecadação. Na visão deles, a mudança na tributação não vai impedir novos reajustes nos preços dos combustíveis. A verdadeira solução, dizem, está no fim da chamada Política de Preços de Paridade de Importação (PPI) da Petrobras, que vincula o preço do petróleo ao mercado internacional tendo como referência o preço do barril tipo brent, calculado em dólar. Desde 2016, a estatal utiliza essa política e, por isso, o valor internacional do petróleo e a cotação do dólar influenciam diretamente na composição dos preços da companhia. "Vai continuar essa escalada de aumento porque estão dando um remédio errado. A doença não é a questão do ICMS e sim uma conjuntura inflacionária relacionada à cobrança do barril de petróleo", disse ao Valor o presidente do Comitê Nacional de Secretários da Fazenda (Comsefaz), Décio Padilha. A decisão do ministro André Mendonça ainda pode ser revista pelo plenário do Supremo, mas mesmo num cenário de nova vitória do governo Bolsonaro, a guerra de narrativas sobre a verdadeira origem do problema continua.Para ler esta notícia, clique aqui.

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Mendonça determina que alíquota do ICMS de combustíveis seja uniforme em todo o país

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça determinou nesta sexta-feira, 17, que as alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cobradas sobre todos combustíveis devem ser uniformes em todo o País. Ele suspendeu a eficácia do convênio assinado pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), órgão que reúne os secretários de Fazenda dos Estados, em março deste ano. O Confaz tinha estabelecido alíquota de R$ 1,006 por litro de diesel S10 (o mais usado no país), mais alta que a praticada na maioria dos Estados. O acordo, no entanto, autorizava os governos a praticar valores menores. O ministro do STF determinou que o Confaz edite uma nova regra sobre o tema. Até lá, o cálculo do ICMS sobre os combustíveis deve levar em conta a média de preços praticados nos últimos 60 meses (cinco anos). A medida, tomada de forma individual, vale não só para o diesel, mas também para todos os combustíveis. Mendonça atendeu a um pedido do governo após Estados e a União não chegarem a um acordo. A AGU questionou o convênio do Confaz em uma ação no STF e apontou conflito em relação à lei, aprovada pelo Congresso, que determina uma cobrança de alíquota única do ICMS sobre gasolina, etanol, diesel e outros combustíveis. A União pediu ao Supremo que fosse estabelecida como regra a obrigatoriedade de todos os Estado e o Distrito Federal obedecerem "ao critério da essencialidade", não podendo ser fixadas (alíquotas do ICMS) em patamar superior ao das operações em geral". O Congresso aprovou nesta semana projeto de lei que fixou em 17% o teto do ICMS cobrado sobre combustíveis. Política de preços No dia em que a Petrobras anunciou um novo reajuste dos combustíveis, Mendonça determinou que a estatal informe ao STF, no prazo de cinco dias, sobre os critérios adotados para a política de preços estabelecida nos últimos 60 meses pela petroleira. A decisão foi tomada na ação que tramita na Corte e discute a regulamentação dos Estados sobre o ICMS único para combustíveis. A Petrobras terá de enviar ao STF cópia de toda documentação (relatórios, atas, gravações em áudio ou vídeo de deliberações etc.) que subsidiou suas decisões de reajuste neste período, para mais ou para menos. A estatal também precisará apresentar ao Supremo documentos que subsidiaram sua decisão quanto à adoção da atual política de preços, especificamente no que concerne à utilização do Preço de Paridade Internacional (PPI) - mecanismo que está na mira do presidente Jair Bolsonaro, responsável pela indicação de Mendonça ao tribunal. O ministro ainda determinou que a Petrobras informe ao STF o conjunto de medidas tomadas para o cumprimento da função social da empresa estatal, "em face das flutuações de preços dos combustíveis eventualmente ocorridas nos últimos 60 meses". À Agência Nacional do Petróleo (ANP), requisitou também no prazo de cinco dias informações sobre os procedimentos e atos adotados a respeito da fiscalização, acompanhamento e transparência da política de preços de combustíveis no país, em especial em relação à Petrobras. Ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), determinou que sejam enviados ao tribunal dados a respeito de eventuais procedimentos abertos em relação à Petrobras. "Seus respectivos objetos e o prazo estimado para conclusão levando-se em conta os princípios da eficiência e da duração razoável do processo", ordenou.

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Com risco de falta de diesel, país deve criar estoques, diz ex-diretor da ANP

Mesmo com os anúncios de reajustes de combustível feitos pela Petrobras, na última sexta-feira, há grande risco de faltar diesel no segundo semestre. O alerta é do ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e sócio consultor do escritório Schmidt Valois Advogados, Aurélio Amaral. Ao Valor, o especialista, que foi diretor da ANP por quatro anos, incluindo durante a greve dos caminhoneiros em 2018, detalhou que o desabastecimento pode levar a faltas pontuais de combustível, em regiões que dependem mais de importações, como o Centro-Oeste. Mesmo depois do anúncio da Petrobras, na sexta-feira, tornando diesel e gasolina mais caros, a defasagem em relação aos preços internacionais, ainda permanece, segundo importadores. Isso inibe importações, que respondem por cerca de 30% da demanda de diesel no país, alerta Amaral.O técnico, que, antes de ser diretor da ANP, foi superintendente de abastecimento da agência, defendeu a formação de estoques, pela Petrobras, para ajudar a diminuir riscos de desabastecimento. Mas, ao invés de estocar, o Brasil se perde nas discussões sobre preços, lamenta o ex-diretor. Amaral considera improvável um desabastecimento generalizado. Mas frisou que a falta de diesel pode prejudicar a safra, visto que Centro-Oeste, maior produtor de grãos, é mais dependente de importações. Leia os principais trechos da entrevista: Aurélio Amaral: Precisamos fazer algum estoque, porque o diesel está curto no mundo. É necessário fazer remuneração para que a Petrobras tenha capacidade de fazer importação e manter estoques. Também precisamos manter algum tipo de paridade [com os preços internacionais], pelo menos por ora nesse modelo atual, para que outros atores sejam estimulados a importar e a suprir parte do combustível que não é produzido no país. Para mitigar preços ao consumidor, é necessário ter alguma política compensatória, que o governo até agora não quis. Se ninguém cede de um lado nem do outro, o caminho à frente é de crise. Valor: O reajuste recente ajuda? Amaral: Me parece que o reajuste era necessário. O governo e a Petrobras hoje vivem um dilema: como equacionar empresa de capital misto, que tem função social, e é detentora de monopólio expressivo. Seguindo a lei atual, e a forma como está estabelecida a precificação, para a diretoria da Petrobras não resta saída que não seja reajustar. É situação muito difícil para quem está à frente da diretoria arranjar uma forma de segurar preços sem ter contrapartida que assegure que não serão responsabilizados por órgãos reguladores [por eventuais prejuízos]. Valor: Como está o cenário para os importadores de combustível? Amaral: Ninguém está importando. Estamos numa situação complicada. Precisamos trazer diesel, pois estamos nos aproximando da safra, mas o preço [do petróleo] continua subindo, embora tenha tido uma pequena queda. Há uma pressão grande na demanda mundial por diesel. Estamos caminhando para algo perigoso. É uma questão complexa, requer um olhar sistêmico e, principalmente, harmonia entre a Petrobras e o governo, um ambiente de menos tensão e conflito. Hoje, parece uma guerra, que não é boa para ninguém. "Não acredito numa falta generalizada de diesel, mas o risco de faltas pontuais é grande se não criamos estoque" Valor: Quais são os riscos? Amaral: Não estamos fazendo estoques, porque quase ninguém está importando, então estamos caminhando para um risco grande [de desabastecimento]. É um risco derivado hoje da guerra e da pressão dos embargos à Rússia [exportadora de petróleo]. Valor: Existe espaço para que o Brasil comece a criar estoques hoje? Amaral: Só quem tem condições de fazer estoque de segurança relevante hoje é a Petrobras, porque ela detém toda infraestrutura. Mas como fazer isso sem repassar aos preços? É uma equação difícil. Nessa atual crise, acho muito difícil haver tempo de se pensar em aumentar estoques, enquanto se discute impactos de preços. Também seria necessário rever a política de preços e a política de remuneração de investidores da Petrobras. Pela atual política, ela teria que repassar os custos dos estoques. Isso é difícil no ambiente politizado de hoje. Valor: Vai faltar combustível? Amaral: Não acredito numa falta generalizada de diesel. Mas o risco de faltas pontuais é grande se não caminharmos para criar algum estoque. Principalmente em regiões que dependem hoje da importação, com o Centro-Oeste, regiões de agronegócio, onde a demanda por diesel será grande no segundo semestre. Caminhamos para uma situação de bastante emoção. Vai ser tenso. Valor: Como reduzir impactos dos altos preços? Amaral: Não vejo algum tipo de saída que não envolva compensação. Mas isso tem impactos fiscais, no orçamento federal, pode atingir emendas parlamentares num ano eleitoral, o governo não quer. Não é uma discussão simples, é complexa, os recursos têm que vir de algum lugar. Requer sangue frio e mais calma, não esse ambiente de tensão. Se ficar só na conta da Petrobras, seria necessário mexer também na remuneração aos acionistas, nos dividendos, precisaria ver as regras de gestão de empresas de capital aberto. Se a Petrobras simplesmente não repassar os preços, ela vai ficar submetida a prejuízos. Valor: O que o senhor achou das propostas feitas até o momento? Amaral: Da forma como foi proposta a redução do ICMS, não há compensação. Com aumento do petróleo e repasse de margens [a redução do imposto] vai ter impacto, a meu ver, insignificante em termos de preços. Valor: A venda das refinarias da Petrobras vai resolver a discussão? Amaral: Sempre fui a favor dos desinvestimentos, acho que são bem-vindos para criar um mercado competitivo. Mas devem ser feitos com acompanhamento regulatório para mitigar efeitos concorrenciais e evitar abuso de poder econômico em regiões onde as refinarias são dominantes. Deve ser feito em médio a longos prazos. Isso requer transição suave, de forma a estimular a vinda de outros investimentos. Paramos esse processo no meio. Não conseguimos fazer desinvestimentos de todas as refinarias para iniciar um mercado competitivo. A Petrobras continua tendo um monopólio grande. Valor: Quais sãos as medidas necessárias para maior competição? Amaral: O refino foi pensado sempre com a Petrobras, no sistema brasileiro como um todo. Para pegar esse sistema que foi gerado para atuar integrado e desmembrá-lo, é preciso criar alternativas. Se simplesmente vender a refinaria, vai transferir monopólio do agente público para privado. É necessário ter medidas para criar competição pela importação. O Brasil não pode, por lei, ter controle de preços. Mas como fazer essa transição sem algum acompanhamento? É complexo.

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Gasolina é o principal problema de Bolsonaro para eleições, diz pesquisador

Em entrevista à CNN neste sábado (18), o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, afirmou que os sucessivos aumentos no preço da gasolina são atualmente o principal problema para o presidente Jair Bolsonaro na eleição deste ano. eldquo;O que a gente tem visto é que a gasolina aparece como o maior problema para a reeleição do presidente Bolsonaroerdquo;, destacou o pesquisador. eldquo;Todo o movimento está sendo levado para que a Petrobras seja responsabilizada pelo aumento da gasolina. O fato é o que a grande maioria da população brasileira pensa, e as pesquisas vão nessa direção, é que o grande responsável pelo aumento do preço da gasolina é o presidente Bolsonaroerdquo;, acrescentou. Meirelles ressaltou que a União é a maior acionista da empresa e, cada vez que ela aumenta o preço dos combustíveis, recebe parcela de lucro maior pela sua posição. eldquo;Portanto, todo movimento que o presidente faz de responsabilizar a Petrobras como se não fosse o governo o maior acionista, vai no sentido de fazer com que ele não fique o ônus do preço atualerdquo;, concluiu.

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